tem uma coisa presa em meu coração
como um bloco de mármore
que diz ao escultor: me gaste!
faça sair daqui um alazão.
a poesia do meu coração agita
pede para ser polida
explode desajeitadas letras
cospe verso em falsa lida
a poesia minha arrisca
e se sabe fajuta
mas não se satisfaz:
ela quer que eu a esculpa mais
penso que sempre haverá
um retoque por fazer:
uma nova linha na crina
palavra melhor pra escolher
e enquanto não tenho obra-prima
penso o que meu pai acharia
dessa eterna inacabada escultura
se em meu poema pousasse seus olhos
julgaria ser ele à sua altura?